A espetacular derrota de Rodrigo Maia
Redação Publicado em 06/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h58
A espetacular derrota de Rodrigo Maia
Sim, uma derrota pode ser espetacular. Principalmente quando ela ocorre com transmissão ao vivo pela televisão e pelo rádio, aparece em diversos ângulos nas redes sociais e é coroada com um choro público.
E foi tudo isso o que vimos no início desta semana, quando, nas eleições para a mesa diretora da Câmara dos Deputados, os aliados do presidente Jair Bolsonaro e uma parte da oposição fizeram o que sonhavam há algum tempo: defenestraram do poder o antes onipotente e quase autoproclamado Primeiro-Ministro Rodrigo Maia, presidente da Casa por pouco mais de quatro anos.
Por que isso aconteceu? Maia não conseguiu entender que estava perdendo o poder? Pode ser que sim, mas não temos como ter certeza. Afinal, se soubesse o que estava acontecendo, por que não evitou uma derrota pública?
Isso demonstra o motivo pelo qual devemos nos lembrar que as pessoas que têm poder, lideram, são referências em um determinado ambiente político (um partido, uma casa legislativa, um clube de futebol ou até uma empresa), precisam ter informações claras sobre o entorno e capacidade de compreendê-las. E, para isso, é preciso ouvir, delegar e respeitar as percepções que as pessoas trazem.
Maia falhou em todos esses aspectos. Ignorou sinais importantes, como a derrota na Justiça quando tentou garantir mais um mandato e, mais tarde, não notou a tranquilidade com que a base de apoio do Presidente da República, seu adversário declarado, começou a negociar espaços no governo com os deputados do Centrão.
Ao insistir no distanciamento de Bolsonaro, perdeu o próprio partido (o DEM) e colocou na berlinda o aliado Baleia Rossi (do MDB), que aceitou o desafio de ser seu sucessor. Agora, além dos antigos adversários, vai ter que lidar com os novos, que se sentiram expostos e traídos pela sua incapacidade de usar a cadeira e o poder da caneta para garantir apoios e votos.
Pode ser que Rodrigo Maia dê a volta por cima, faça uma reflexão profunda e reconstrua o caminho para retomar o poder que já teve. Porém, para isso, será necessária a humildade de reconhecer os erros, além da capacidade de observar e de recuar, deixando o choro somente para o travesseiro.
Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
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