por Kleber Carrilho
Publicado em 16/12/2023, às 15h30
Zélia Gattai, que foi uma grande escritora e companheira de Jorge Amado, escreveu um livro fantástico chamado "Anarquistas, Graças a Deus", no qual narra a chegada de italianos com suas novas ideologias ao Brasil, mais especificamente a São Paulo. O título da obra tem a intenção de mostrar uma contradição e todo o ecletismo de ideias que deveriam ser opostas, mas que, no nosso país, acabaram caminhando juntas em tantos momentos.
Lembrei-me desse livro depois que vi o momento em que Lula diz que agora temos, pela primeira vez na História, um comunista no STF. E, como sabemos, Flávio Dino é uma contradição ambulante. Governador pelo Partido Comunista do Brasil, nunca escondeu a fé, colocando imagens religiosas nas mesas em que trabalhou. Portanto, assim como os anarquistas de araque que Zélia tão bem descreveu, Dino, se for comunista, é bem mequetrefe.
Para quem pensa que ele estará no STF atendendo a uma agenda comunista (se é que os comunistas têm agenda no Brasil), esqueçam. Dino é só mais um político de discurso populista que vai chegar à corte fazendo o que os conservadores fazem: mantendo tudo mais ou menos do jeito que está.
Lula, ao ser influenciado pela empolgação de um encontro de jovens para dizer o que disse, esqueceu que, em tempos de redes sociais, essa imagem vai ser usada à exaustão, não somente quando ele tentar a reeleição, mas principalmente contra seus candidatos às prefeituras no próximo ano.
O Brasil, que nunca chegou perto do comunismo, continuará não sendo comunista. Afinal, marxista no país só tem importância nas universidades, onde tudo é discutido, mas pouca coisa consegue atingir a política real.
Não se preocupem com as suas casas de três quartos, com os seus carros financiados, com os seus negócios que com dificuldade conseguem sobreviver a cada mês. Nenhum comunista vai tomar nada de vocês porque o Dino chegou ao STF.
Assim como tudo é mais ou menos no Brasil, o PCdoB já foi a casa de Netinho de Paula, que não me parece também um stalinista muito convicto. Das ideias de João Amazonas, que na minha opinião foi o último comunista que passou por lá, talvez só tenha sobrado a foice e o martelo na bandeira vermelha.
Quanto a Flávio Dino, talvez o que mais o represente neste momento seja mesmo o abraço em Sérgio Moro. Afinal, assim como ele fez durante toda a vida, o equilíbrio permitiu que ele chegasse aonde chegou, contando inclusive com o apoio de um adversário histórico, o ex-presidente José Sarney.
Como sempre eu digo quando vejo esses movimentos, é só o “jogo sendo jogado”.
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