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COLUNA

Relação entre o Planalto e o Vaticano: uma aproximação cheia de segundas intenções

Dilma Rousseff e Papa Francisco. - Imagem: Divulgação / Vatican Media
Dilma Rousseff e Papa Francisco. - Imagem: Divulgação / Vatican Media
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 30/04/2024, às 07h55


De acordo com o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu assessor internacional, Celso Amorim, manter uma relação amigável com o Vaticano nunca foi tão fundamental.

O relacionamento à lá BFF (Best Friends Forever) entre o Planalto brasileiro e a Santa Sé é hoje o mais robusto de toda a história e tende a aprofundar-se ainda mais, o que se pode comprovar pelas visitas de Lula (a última em junho de 2023) e seus aliados ao pontífice e do Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, ao Brasil (em 8/04).

A aliada de Lula e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, Dilma Roussef, esteve no Vaticano e encontrou-se com o papa Francisco no sábado (27), em um investimento na relação bilateral com a Santa Sé, o que é extremamente estratégico para o “líder” brasileiro.

Dilma foi a primeira chefe de Estado a ser recebida formalmente pelo Papa e mantém amizade com Francisco desde que era presidente do Brasil. Durante o encontro, entregou um presente ao pontífice e fez questão de deixar pública sua visita, com um post em sua conta da rede social X (Antigo Twitter), onde escreveu:

É sempre uma alegria estar com o Papa Francisco, amigo do Brasil e um homem profundamente comprometido com os destinos da humanidade [...] Falamos sobre os grandes desafios da humanidade: o combate à desigualdade e à fome, a transição energética e as ações necessárias para enfrentar as mudanças climáticas.

Como se vê na postagem de Dilma, há várias coincidências entre as temáticas da agenda do (des)governo brasileiro e o Papa, incluindo a ideia da criação de um fundo global destinado à erradicação da fome e da pobreza, um claro alinhamento com a agenda lulista para o G20, como se Lula se importasse, de fato, com os pobres, e não com a perpetuação do poder e o progresso da tirania no Brasil.

A visita de Dilma ao Vaticano acontece em um momento crucial de iniciativas do Planalto para solidificar a relação com a Santa Sé, já que em tempos de popularidade em queda-livre no país e desafios externos, Lula carece desta preciosa aliança.

E os interesses são de ambos os lados, o que se evidencia no fato de a Santa Sé ter o Brasil como país essencial, já que aqui está a maior quantidade de bispos ativos do mundo, a saber, 300, sem contar os eméritos. E o interesse é mútuo e vai além dos dois países, incluindo a crítica situação dos Venezuela e Nicarágua, ambos conduzidos por ditadores tão amigos do (des)governo brasileiro.

Lula mantém contato frequente com o Papa Francisco, além disso, Celso Amorim mantém um interlocutor no Vaticano, o cardeal Matteo Maria Zuppi, cujo papel é de grande relevância na agenda de contatos no exterior.

A influência do Vaticano em relação à política no Brasil envolve diplomacia e relações bilaterais, influenciando indiretamente nas questões globais, como direitos humanos, justiça social etc.; posições morais e sociais, já que a Igreja Católica influencia a moral e os valores da sociedade brasileira, nas temáticas como aborto, união homoafetivas, contracepção e bioética; questões sociais e humanitárias, como a das causas humanitárias, combate à pobreza, tráfico de pessoas etc.

Mesmo não tendo influência direta, o Vaticano acaba por influenciar indiretamente nas diversas questões, o que é perceptível nos valores morais, relações diplomáticas e questões sociais. Daí, parece justificar-se o interesse do atual presidente brasileiro nesse estreitamento de laços, uma vez que, bem ou mal, a Igreja Católica ainda se configura como guardiã de valores mais tradicionais.

Se a intenção do Planalto brasileiro é, como parece, provocar um afrouxamento dos valores e desvalorização dos princípios judaico-cristãos para, assim, mais facilmente, implementar uma agenda totalmente avessa aos princípios conservadores, tal aproximação é de fato estratégica. E, como dizem popularmente, “Haverá sinais”. E os sinais estão acontecendo, alguns deles bem claramente.

Aguardemos... Mas em vigilância constante.

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