por Agenor Duque
Publicado em 14/03/2023, às 10h06
Marko Ivan Rupnik, padre esloveno de 68 anos, idealizador e coordenador geral da obra artística do Santuário Nacional de Aparecida, foi proibido pela Companhia de Jesus, ordem religiosa a que pertence, de exercer diversas atividades, como da confissão, direção espiritual e acompanhamento de ações espirituais, além de não poder se envolver em atividades que envolvam trabalhos artísticos.
A razão para isso é que Rupnik foi acusado de cometer crimes de abusos sexuais, psicológicos e espirituais. Com a acusação, o futuro do padre na igreja católica não deverá ser tranquilo não, e a reforma da basílica de Aparecida, cuja primeira parte foi concluída em março de 2022, com alarde e grande entusiasmo, está sem perspectiva de continuidade, embora a fase sul, segundo informações, esteja próxima de ser concluída.
Apesar de Rupnik contar com uma grande equipe para realização dos trabalhos, a concepção artística e a coordenação são do padre. Além disso, a obra na primeira fachada da basílica conta com cerca de 4 mil metros de mosaicos, a maior realizada pelo artista no planeta. O problema é que seria, no mínimo, constrangedor ter como cartão-postal da fé no Brasil, o trabalho artístico de um abusador recorrente, já que, em 2020, o padre foi excomungado pela Doutrina da Fé, mas a decisão foi revogada, e Marko advertido a não incorrer em novos desvios de conduta, o que não foi acatado, já que em 2021, novas denúncias surgiram e a investigação reaberta.
Segundo a Companhia de Jesus, os casos ocorreram no período entre 1980 e 2018, e de acordo com a BBC cerca de 20 mulheres (nove delas eram freiras) e 01 homem teriam sido abusadas, todos adultos, e os abusos teriam acontecido tanto na Eslovênia quanto na Itália.
Enquanto isso, a estratégia adotada pelos administradores da basílica para lidar com o assunto é de silêncio constrangedor. Sequer Orlando Brande, arcebispo de Aparecida, concordou em dar qualquer declaração a respeito do andamento da fase de reforma da fachada sul, em execuçãono momento. Procurado para apresentar sua versão da história e uma possível entrevista com o padre, o Centro Aletti, ateliê de arte religiosa fundado por Marko Rupnik, não respondeu ao convite, e a Companhia de Jesus ressaltou que as informações envolvendo o caso estariam disponíveis em seu site oficial.
Não é de hoje que se tem notícias de abusos cometidos por líderes religiosos. Chama a atenção que o caso de Rupnik esteja sendo tratado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé (conhecido por Inquisição) e não pelo Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, como seria a prática, o que parece uma tentativa de suavizar a situação do padre esloveno, e até protegê-lo, já que estaria em ingerência mais próxima do papa Francisco.
Em adição, informações advindas da Comunidade Loyola, na Eslovênia, dão conta de solteiros que declararam terem sido abusadas “na consciência, assediadas espiritual, psicológica ou sexualmente” em seus relacionamentos pessoais com Rupnik. Apesar de todos os fatos, as acusações correm somente no âmbito religioso, não havendo, portanto, processo criminal contra o padre, já que pelo direito italiano, casos de abuso sexual de adultos prescrevem em 01 ano, estando todas as denúncias contra Rupnik prescritas, pois ocorreram anteriormente a 2018.
Enquanto isso, contratos de trabalho de Rupnik foram cancelados e o título de “doutor honoris causa”, que lhe fora concedido pela PUC-PR, foi revogado.
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